terça-feira, abril 24, 2007

HAMELIN de Juan Mayorga pelos Artistas Unidos

Um texto simples, complexo, em que a culpa oscila.
O texto está editado nos Livrinhos de Teatro nº 20 A tradução teve o apoio do ATELIER EUROPÉEN DE LA TRADUCTION/SCÈNE NATIONAL D’ORLÉANS com o apoio da UNIÃO EUROPEIA Comissão de Educação e Cultura – programa Cultura 2000.
Às vezes ouvimos um som aos nossos pés, ou entre as sombras, e temos medo que os ratos já aqui estejam, entre nós. Agora que éramos tão felizes. Às vezes ouvimos nas nossas costas o som daquela flauta e dá-nos medo de nos voltarmos e reconhecermos os olhos do flautista. E corremos para os quartos dos nossos filhos para ver se ainda ali estão. Às vezes tememos que o “Era uma vez” nos alcance como uma língua negra. E que, como uma profecia, cumpra o conto em nós. Nas versões mais antigas do conto, as crianças nunca voltam a Hamelin. O flautista leva-os para sempre com a formosa música da sua flauta. Arrebatando os filhos inocentes, o flautista outorga à culpa dos pais o mais cruel dos castigos. Também este Hamelin é um conto sobre a culpa dos adultos e o seu castigo. Sobre as crianças de uma cidade que não sabe protegê-los. Sobre um menino e os seus inimigos. Sobre o ruído que o rodeia e o medo que nos olha. Juan Mayorga
Hamelin fala do mesmo que o conto: de ratos, de homens rato. A cidade encheu-se de ratos; a perversão está na base da pirâmide: as crianças, a pedofilia. Hamelin fala-nos da perversão, da perversão da educação, da perversão sexual, da perversão das palavras. Unidade familiar significa família para uma criança que não sabe o que isso é? E se a tolerância é zero, quererá isso, para um juiz moderno e democrata, dizer repressão? Hamelin também é, claro, um jogo teatral perverso onde uma personagem-comentador, em contínuo contacto com o público, nos muda o ponto de vista ou nos esclarece acerca de um conceito ou nos comove a adpotar uma postura crítica ou simplesmente senta-se ao nosso lado e olha-nos para ver como olhamos. E é disso que se trata, de olhar. De olharmos.


HAMELIN de Juan Mayorga
Tradução de António Gonçalves
Com Américo Silva, Andreia Bento, António Filipe, João Meireles, Paulo Pinto, Pedro Carraca e Sylvie Rocha
Cenário e figurinos de Rita Lopes Alves
Luz de Pedro Domingos
Direcção e produção de António Simão e João Miguel Rodrigues

Assistência Ana Lázaro,
M/16


No Convento das Mónicas a partir de 12 de Abril
www.artistasunidos.pt

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